sábado, 18 de maio de 2024

EFMM, a Paris dos trópicos

EFMM, a Paris dos trópicos

 

Professor Nazareno*

 

          Fala-se que a administração do PT gastou no início desse século a bagatela de 13 milhões de reais para recuperar a Praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré em Porto Velho. Já a atual administração gastou cerca de 30 milhões de reais, mas a “escondeu” da população por longos cinco anos. Só agora em 2024, como sempre em ano de eleições, foi feita com pompas e estardalhaços a reinauguração do referido elefante branco. A velha EFMM foi realmente um marco na história da humanidade. Remonta ainda ao Primeiro Ciclo da Borracha passando pelas guerras mundiais e também pela aquisição do Acre. Não restam dúvidas de que sua importância para a criação do município de Porto Velho, capital de Roraima, foi notória. Inaugurada em 1912, a “dormente de ouro” nunca teve reconhecimento. Os seus trilhos hoje se espalham pela cidade como proteção de calçadas.

          A Ferrovia do Diabo (e não de Deus) é a “mãe” de Porto Velho, mas há muito tempo os habitantes daqui lhe viraram as costas. E o vergonhoso cemitério de locomotivas enferrujadas e apodrecendo abandonadas no meio do matagal é a prova mais cruel desta constatação. De um modo geral, os rondonienses não gostam mesmo de sua velha, feia e desajeitada mãe. Na enchente histórica de 2014, por exemplo, deixaram-na se afogar nas caudalosas águas do rio Madeira. Tempo havia para salvá-la da derrocada final, já que as águas chegavam ali mansamente, mas os rondonienses e também os “rondonienses de coração” preferiram ver o espetáculo da sua própria história se afogando. Insensíveis ao seu sofrimento e à sua importância, deixaram todo o seu acervo ao léu e à lama. E o descaso com ela não para, já que logo ali ao lado tem um porto abandonado enferrujando.

          A EFMM talvez não atraia muita gente para vê-la. Muitas pessoas gostam mesmo é só de ver o pôr do sol dali, ainda que em meio aos urubus, ratos, catinga e lixo. Além do mais, a capacidade intelectual de muitos cidadãos locais faz com que a importância histórica da velha ferrovia e o turismo sejam atividades sem sentido. E mesmo quando não havia tanta burocracia para lhe poder visitar, só apareciam por lá raríssimas pessoas. Porto Velho não tem turismo. Em vez de revitalizar algo que certamente não lhe darão a menor importância, deviam era limpar aquela imunda e fedida beira de rio e quem sabe um dia construir ali um porto de passageiros decente e uma boa pista de caminhadas como em Santarém no Pará ou mesmo Manaus. A entrada será gratuita, mas mesmo assim a velha praça pode ficar jogada às moscas e voltará a servir só para os espetáculos circenses.

     Em matéria de turismo, Porto Velho lamentavelmente é o oposto do mundo dito civilizado. Com tanta sujeira e imundice nas suas ruas, violência, falta de saneamento básico, de arborização, mobilidade urbana e infraestrutura de cidade, não somos nem nunca seremos a “Paris dos trópicos”. Enquanto Veneza, Madri, Machu Picchu, Paris, Barcelona, Tóquio e tantos outros paradisíacos destinos mundiais criam barreiras para lhes visitarem, a “capital das sentinelas avançadas” patina em organização, mas hoje implora para que venham conhecê-la. Se o turista adoecer aqui, onde será internado? Nem “Built to Suit” nós temos. E como chegar a um lugar que nem bom aeroporto, nem porto, nem voos regulares, nem boa receptividade existem? Como é que um visitante vai querer explorar a “história fascinante” da EFMM se ela já nem existe mais? Como ter uma “experiência memorável” ao lado de um barranco sujo, íngreme, seboso e escorregadio?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


domingo, 12 de maio de 2024

E quem vai ajudar Porto Velho?

E quem vai ajudar Porto Velho?

 

Professor Nazareno*

 

            Porto Alegre, a exuberante capital do Rio Grande do Sul foi sacudida neste início de maio de 2024 quase que por uma “explosão atômica”. Chuvas torrenciais de mais de 500 milímetros/dia inundaram a capital dos gaúchos e a reduziram a escombros. O número de mortos já passa de cem pessoas e há até agora muitos desaparecidos nesse “dilúvio” de proporções bíblicas. A área metropolitana da cidade também foi duramente afetada e está um caos, assim como mais de 430 cidades espalhadas pelo território gaúcho. O Brasil deve ajudar aquele estado sem impor nenhuma condição. Por isso, várias cidades de norte a sul e de leste a oeste do país têm contribuído para amenizar a dor dos irmãos riograndenses. Todos eles são vítimas das mudanças climáticas e também do descaso da prejudicial classe política, que só pensa em si mesma e nunca se preocupa com os outros.

            Todos nós, sem exceção, devemos ajudar nossos irmãos do sul e torcer para que a situação não piore ainda mais. Mesmo se tratando de um desastre natural, não há como não entender que se trata de algo causado pela mão humana. A natureza reage sempre quando é agredida. Por isso, o agronegócio predador e as devastações ambientais verificadas em outras partes do Brasil, e também do mundo, têm muito a ver com mais esta catástrofe. O Rio Grande do Sul vive hoje o seu Armagedon. Porém, há uma outra cidade, também capital de um estado, e bem distante de Porto Alegre, que sofre dia após dia as suas intempéries. Trata-se de Porto Velho, capital de Roraima. A cidade do norte até está acostumada com as chuvas torrenciais, que têm diminuído muito ultimamente. O caos na “capital das sentinelas avançadas” é a constante falta de infraestrutura da cidade.

            O drama de Porto Velho, no entanto, quase não é sentido, pois está diluído pelo longo tempo. Mas talvez mate mais gente do que a atual tragédia dos gaúchos. Falta de esgotos e de saneamento básico em uma cidade grande funciona como um holocausto sobre crianças, velhos e pessoas fragilizadas. E em Porto Velho, bem diferente de Porto Alegre, só tem uns dois ou três por cento de esgotos e de saneamento básico. Depois de ajudar a capital gaúcha, os brasileiros deveriam ajudar nossa cidade. Aqui a classe política também não faz nada. Desde 1914, nossa capital é uma pocilga, uma fossa a céu aberto, uma latrina suja e imunda. Porto Velho não tem mobilidade urbana, não tem rede de esgotos e a população bebe água de poços imundos cavados ao lado de fossas podres e fedorentas. Pior: a menos de 5 km há uma barragem que pode se romper e devastar tudo.

      Além de ajudar os seus irmãos gaúchos, os rondonienses deveriam contribuir e muito para diminuir catástrofes como essa. Mas um político local quer é aumentar ainda mais os índices de desmatamentos nas florestas. O povo daqui, de um modo geral, quer recuperar a BR-319 e também pede a volta do garimpo assassino e poluidor do rio Madeira. Com isso, os desastres ambientais só vão piorar. A própria ONU já reconheceu o drama de Porto Alegre como sendo uma consequência dos constantes ataques do homem à já combalida natureza. Porto Velho e Rondônia ajudam agora, mas depois deviam pedir socorro ao Brasil e ao mundo para tentar sair do eterno e fétido lodaçal em que vive há mais de cem anos. Os políticos deviam doar todo o dinheiro do fundo eleitoral para os gaúchos, que sofrem agora. Mas os porto-velhenses têm sofrido muito também. Só que a nossa dor é invisível. Os políticos só se mexerão quando chover merda por aqui.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Madonna fez um show divino!

Madonna fez um show divino!

 

Professor Nazareno*

 

            Não assisti ao megashow da cantora Madonna nas areias de Copacabana no Rio de Janeiro. Não sou muito adepto do tipo de músicas que ela canta. Gosto mais de música clássica como as de Vivaldi, Bach ou Beethoven. Por isso, jamais iria a uma apresentação dela. Mas reconheço que a mesma é uma megaestrela mundial que merece todos os elogios. E por isso respeito a sua grande e memorável performance. Respeito os seus fãs e admiradores. No Rio de Janeiro, a popstar norte-americana colocou quase dois milhões de pessoas para dançarem seus animados hits. Fato inédito em um país ainda dividido pela surreal política. Nem Lula e o seu PT muito menos o Bolsonaro com a sua trupe conservadora conseguirão hoje mobilizar tanta gente. Aliás, o colossal fracasso das comemorações do último dia 1° de maio foi uma prova cabal dessa inequívoca realidade.

            Do lado dos conservadores da extrema-direita raivosa o retumbante fracasso de mobilizar pessoas também é visível. Jair Bolsonaro, que está inelegível e na iminência de ser preso e condenado, sentiu o baque. A ala mais religiosa e reacionária do Brasil também percebeu o seu frágil poder de mobilização se for comparada com Madonna. O inelegível estava em Manaus durante o megashow no Rio e parece que “adoeceu” ao perceber o sucesso do megaevento. As cenas divulgadas direto das areias de Copacabana certamente abalaram o sistema nervoso do falso “Mito”. Ficou mais do que provado que Madonna é que é o verdadeiro mito. E mundial. O ataque de erisipela que fez o “Bozo” voltar ao Rio de Janeiro em uma UTI no ar pode ter sido o efeito colateral mais visível do show de Madonna. Para desespero de muitos, a Globo retransmitiu tudo ao vivo para todo o país.

            A cantora norte-americana é tão importante que “com um pé nas costas”, com as mãos amarradas e sem falar ou entender uma única palavra em Português ela inebriou, emocionou e levou ao delírio multidões espalhadas pelo país inteiro. Os invejosos de direita quase morrem de desgosto. Inventaram que foi dinheiro público que trouxe a artista ao Brasil. Mas foi a Heineken e o banco Itaú que patrocinaram todo o espetáculo. No palco, Madonna teve como protagonistas drag-queens, pretos, pretas, lésbicas e gays. O público foi à loucura quando as cantoras Pabllo Vittar e Anitta contracenaram com a popstar. O megashow recuperou também o real valor da bandeira brasileira. Fazia tempo que a nossa bandeira festejava o amor. E quase todos eles vestidos com a gloriosa camisa amarela da seleção brasileira de futebol. Um deslumbre que pode levar muitos ao enfarte.

            O inesquecível e divino show também entronizou Chico Mendes, Marina Silva, Erika Hilton e Cazuza como os verdadeiros mitos de todo o povo brasileiro. Demonstrou inequivocamente que “se o show foi imoral, satânico” como muitos afirmaram, então por que assistiram a ele? Pelo que se sabe ninguém foi obrigado a isso. Nada de censurar nenhum show. Nem gospel, nem ateu, nem de Madonna, nem de outro cantor. O Brasil precisa de muitas outras pessoas como a Madonna e não de Lula ou de Bolsonaro. Ela transmite alegria e descontração. Nada de PT, de PL, de Patriotas ou de outra agremiação política. Nada de políticos escroques que só servem para roubar e explorar o povo sofrido sem lhe dar alegrias nem esperanças. Todos devem se confraternizar em prol da paz e da esperança. Nada de dividir pela política uma sociedade tão sofrida como a nossa. Quando será que ela vai voltar de novo a nossos palcos? Se Jesus é popstar, Madonna também é!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 4 de maio de 2024

Rondônia sacaneia os gaúchos

Rondônia sacaneia os gaúchos

 

Professor Nazareno*

 

            Por causa das mudanças climáticas, o Rio Grande do Sul tem vivido dias tenebrosos neste início/meio de 2024. Chuvas torrenciais têm castigado o estado gaúcho em proporções jamais vistas. Cidades inteiras da paradisíaca Serra Gaúcha estão submersas. O número de mortos e desaparecidos já chega a mais de cem pessoas. Os prejuízos são incalculáveis. Em vez de estar passeando de Jet Ski, o presidente Lula foi ao estado, mandou ajuda e pôs vários de seus ministros à disposição do governador Eduardo Leite. Enquanto isso, o senador recém-eleito do Rio Grande, Hamilton Mourão, ex-vice presidente de Jair Bolsonaro, sequer deu uma só entrevista se solidarizando com seus eleitores. Mas de quem é a culpa por este terrível estado de calamidade que os gaúchos infelizmente estão vivendo? Há um causador para que isso esteja acontecendo?

            Na verdade, os maiores responsáveis por esta tragédia são muitos. E Rondônia se encontra dentre eles. A criação deste jovem e caótico estado da região norte do país foi praticamente baseada na destruição da natureza. A partir da década de 1980, ironicamente para desafogar a região sul dos inúmeros problemas socais no campo por causa da recente mecanização agrícola, o governo militar resolveu transformar o então território de Rondônia em estado. Havia também a necessidade de aumentar na época o número de parlamentares da Arena, o partido que dava sustentação à cruel ditadura militar. E assim foi feito. Vastas extensões de florestas virgens foram devastadas. Índios foram mortos e muitos animais extintos. Rondônia foi um dos maiores desastres ambientais de toda a história da humanidade. Ainda assim, riqueza e prosperidade nunca deram as caras aqui.

Ao longo da BR-364, entre Cuiabá no Mato Grosso e Porto Velho, a devastação da exuberante cobertura vegetal local deu lugar a muitas cidadezinhas pobres. E é claro que toda esta agressão à natureza antes intacta trouxe problemas e turbinou as mudanças climáticas que estão sendo vivenciadas já nos dias atuais. O clima mudou e continua mudando em todo o mundo. O vento, agora quente e úmido, viaja para o sul do Brasil causando esses transtornos que gaúchos e catarinenses estão passando. A destruição da Amazônia é a consequente destruição do mundo civilizado. Mas as desgraças não param por aí. Em Rondônia estupraram o majestoso rio Madeira ao construir duas grandes hidrelétricas em seu calmo leito. O povo originário, enganado, influenciado e incentivado só pelos interesses capitalistas, aderiu ao projeto e hoje também já sofre as consequências.

Agredir a natureza em Rondônia é uma espécie de hobby.  Do pequeno ao grande produtor, praticamente todos já devastaram o seu quinhão. E como se vê, não saciaram ainda a sua vontade. Está chegando agora o verão e com ele os grandes incêndios do que ainda resta de florestas. A fumaça vai nos acompanhar sem tréguas nos próximos meses. Mas como se todas estas desgraças não bastassem, os rondonienses, de novo incentivados pelos interesses escusos, bradam aos quatro cantos pela reconstrução da BR-319. Isso certamente gerará mais devastação ambiental, mais invasões de terras, mais derrubadas e muito mais problemas, principalmente em outras regiões do Brasil como estas enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul. Aqui, vê-se quase que diariamente pessoas pedindo a volta do garimpo poluidor no já estuprado e morto rio Madeira. Além de ajudar, Rondônia deveria era pedir desculpas aos gaúchos: destruir a natureza tem consequências.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 28 de abril de 2024

Lula, mais um governo trágico?

Lula, mais um governo trágico?

 

Professor Nazareno*

 

            O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já está no seu terceiro mandato à frente dos destinos do Brasil. O seu atual governo tem sido, infelizmente até agora, exatamente igual aos outros dois mandatos e também muito parecido com o mandato de todos os outros governantes anteriores como Bolsonaro, o golpista Michel Temer, Dilma Rousseff, o sociólogo da direita neoliberal Fernando Henrique Cardoso, o Itamar Franco, o extravagante “caçador de marajás” Fernando Collor e até José Sarney, chefe da Arena e capacho do governo militar. Isso para não citar os próprios militares que nos governaram ditatorialmente por quase 21 anos. Praticamente nenhum destes presidentes administrou o Brasil de forma justa “para todos os brasileiros”. Nenhum deles trabalhou em benefício dos mais pobres e miseráveis, já que essa desgraça nos acompanha desde Cabral em 1500.

Assim como Bolsonaro, Lula também se nega a reajustar os salários defasados do funcionalismo público. Nisso, imita o FHC e o Fernando Collor. Mas existem inúmeras outras coisas que atentam contra o ex-sindicalista. No início de seu atual governo ele andou dando declarações absurdas no cenário internacional. Assim como fez também o já inelegível Bolsonaro. Aliás, se no desastrado governo de Jair Bolsonaro nós tivemos a pandemia da Covid-19, no atual governo de esquerda temos a epidemia de dengue. Tolice acreditar que Lula e o PT governam para os mais pobres. Óbvio que tiramos o “Bozo” por que não aguentávamos mais suas declarações absurdas, fascistas e desumanas. Nesse ponto, Lula é um pouco melhor. Porém, todos eles só governaram e só governam para os ricos e endinheirados. Presidentes aqui no Brasil só enxergam mesmo a “Casa Grande”.

            E a “senzala” que se dane. A elite endinheirada e rica do país manda e desmanda em qualquer ocupante do Palácio do Planalto. Pior: foi essa mesma elite reacionária que disse ao Brasil inteiro que havia direita e esquerda lutando pelo poder. Mentira! Ela só dividiu para melhor governar e explorar. Nosso país ocupa hoje a oitava posição dentre as nações mais ricas do mundo. E tem sido assim desde meados do século passado. Nosso PIB é muito maior do que países como a Itália, Bélgica, Canadá, Nova Zelândia, Suécia, Espanha e tantos outros. Mas a fome, a miséria, a injustiça social, os péssimos serviços públicos, a corrupção e o valor do salário mínimo, por exemplo, continuam do mesmo jeito. Nada muda. É o rico ficando cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre. O Brasil é como um paciente terminal em UTI. Se tirar o tubo morre. E se deixar, só vegeta!

            Votei no Lula, e naquelas circunstâncias políticas do final de 2022, o faria de novo. Mas é preciso ter um pouco de visão para ver que nada mudou e nem vai mudar tão cedo neste país riquíssimo, mas injusto. Nosso salário mínimo é de apenas 30% do que o menor salário que se paga em Portugal. Fome e miséria só diminuíram um pouco, mas ainda continuam estampadas bem na cara desse país que vergonhosamente é o segundo maior produtor de alimentos do mundo. Lula governa, mas a duras penas. As pautas-bombas do Congresso Nacional e o Centrão dizem todos os dias a ele e ao PT quem de fato manda. Além do mais, Lula não mudou a cor da nossa bandeira. Ela continua feia, rústica e verde-amarela em vez de vermelha. Lula não aprovou a ideologia de gênero nas escolas nem implantou o comunismo em nossa pátria. Também sequer mudou a letra do hino nacional. Lula caminha para o fracasso, a tragédia. É que a elite vive desse fracasso e dessa tragédia!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Um vereador de excelência

Um vereador de excelência

 

Professor Nazareno*

 

            Eleito e reeleito já oito vezes para a Câmara de Vereadores de sua humilde e pacata cidadezinha, Polodoro das Beiradas é um daqueles raros políticos bastante diferenciado. Sempre fez forte oposição ao Executivo municipal e em todo este tempo dedicado ao “legislativo mirim” praticamente só trabalhou e legislou em beneficio daqueles menos privilegiados. Popular sem ser populista, Polodoro jamais mudou de partido e desde o início de seu primeiro mandato abriu mão de seu salário, que é todo empregado para turbinar as suas muitas ações sociais. Oriundo de uma família “classe média”, ele diz que não precisa se locupletar com o dinheiro do povo. “Político nenhum precisa de dinheiro público para poder legislar bem e em benefício dos mais necessitados”, afirma com muita convicção. Polodoro, nesses 32 anos, nunca se envolveu em qualquer escândalo político.

            O conhecido e aclamado vereador costuma dizer também que não é de direita nem de esquerda. “Sou do povo e das pessoas, principalmente daquelas mais pobres”. Ele vai quase que diariamente a cada canto, bairro, invasão da sua cidade e luta para corrigir as muitas injustiças e os inúmeros erros cometidos pelas administrações e pelas autoridades em geral. Polodoro das Beiradas também visita os bairros nobres e os lugares mais privilegiados no sentido de ouvir as possíveis demandas dessas áreas mais abastadas. A cidade de Polodoro praticamente não tem nem rede de esgotos e nem água tratada. Mas se não fosse ele, os pouco mais de três por cento de saneamento básico sequer existiam. A luta do excelente vereador agora é para reerguer um porto fluvial decente para os moradores ribeirinhos. Existe um, mas foi vergonhosamente abandonado pelo município.

            O confiante edil não tem medo de pedir votos: nunca fez conchavos com prefeito nenhum nem jamais se vendeu para a inútil imprensa marrom de sua cidade. “Publiquem o que quiserem, mas nunca se esqueçam de informar a verdade”, diz o parlamentar. O politizado vereador reclama que o povo de sua cidade nunca teve praças no município e a única que tinha foi fechada durante a atual administração e assim ficou pelos últimos quatro ou cinco anos. Diz que a sua luta é também para construir um hospital de pronto-socorro decente para os moradores pobres da localidade, já que esse privilégio nunca existiu de fato por lá. Só não quer que seja na modalidade “Built to Suit”. O camarista municipal detesta que as pessoas mais pobres e sem leitura de mundo sejam sempre enganadas todo ano de eleições pelos “políticos profissionais”. Por isso, “sofrem todos”.

            Mesmo sendo aclamado e reconhecido por muitos eleitores, Polodoro das Beiradas teme que este ano não seja mais reeleito. Por causa de seu trabalho social em benefício dos menos privilegiados, muitos o confundem equivocadamente como sendo um político de esquerda. O pior é que no seu município uns 90 por cento dos eleitores são da direita e da extrema-direita, mesmo sendo quase todos eles pobres e miseráveis. E qualquer candidato que diz ser de esquerda na verdade é rico, mora muito bem, é abastado e já compactuou com muitos prefeitos direitistas e milionários. “Na minha cidade a direita reacionária é como um câncer em fase terminal, um cachorro faminto que nunca quer largar o osso”, diz Polodoro. “Como pode um povo inteiro viver na merda, na fome, na penúria, na miséria absoluta e no sofrimento e ainda assim ficar rindo de sua própria desgraça?”, questiona o popular vereador. Gente, vamos todos votar e reeleger Polodoro!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Bandido bom é bandido solto!

Bandido bom é bandido solto!

 

Professor Nazareno*

 

            Praticamente o Brasil inteiro aprendeu de alguma forma, durante o famigerado governo de Jair Bolsonaro, que “Bandido bom é bandido morto”. Sem nenhum respeito pelos direitos humanos, a turma bolsonarista pregava ao mundo inteiro que qualquer bandido deveria ser condenado à morte. Mas com a humilhante derrota de Bolsonaro para Lula e o PT e o consequente ostracismo, por enquanto, da extrema-direita parece que a opinião da maioria dos radicais de direita tem mudado conforme a “direção do vento” e também de acordo com os seus próprios interesses. Durante a frustrada tentativa de golpe de Estado realizada no dia 8 de janeiro de 2023, vários bolsonaristas disseram e até juravam que havia muitos petistas infiltrados naquela triste manifestação. “Tudo aquilo foi obra de esquerdistas que estavam lá só para tumultuar nossa manifestação pacífica”.

            O pensamento bolsonarista de que “Bandido bom é bandido morto” ainda estava valendo para muita dessa gente durante aqueles ridículos protestos da extrema-direita em Brasília. Só que todas as bancadas de direita (leia-se: os bolsonaristas) da Câmara dos Deputados já ensaiam a aprovação de uma anistia para os seus correligionários presos por causa do 8 de janeiro. Só que eles diziam que aquela fatídica manifestação golpista era integrada por petistas infiltrados. Como pode agora os políticos reacionários estarem se articulando para tentar livrar os “esquerdistas arruaceiros” que estavam lá na confusão? O próprio Jair Bolsonaro, hoje inelegível, saiu em passeata pelas ruas do Rio de Janeiro no último dia 21 de abril e também pediu anistia para todos os participantes do golpe de 8 de janeiro. Isso é uma demonstração clara de que “os arruaceiros” dali eram da direita.

            A extrema-direita bolsonarista é muito engraçada mesmo: tentou golpear a democracia e hoje continua fazendo discursos que enaltecem a própria democracia. É como a absurda lógica da infame, cruel e assassina Ditadura Militar de 1964. Os milicos do Brasil, depois de verem a monstruosidade que fizeram, propagaram depois aos quatro cantos que “só implantaram uma ditadura para salvar a democracia”. Ora, poderiam ter dado um golpe na democracia e terem implantando ainda mais democracia. Afinal, “o remédio para os males da democracia é sempre mais democracia”. O triste saldo da aventura cívico-militar: entre mortos e desaparecidos foram quase 500 brasileiros inocentes. Isso sem falar em torturas, exílios, censura e outras maldades. Por isso, todo mundo sabe que as “escaramuças” do bolsonarismo hoje não passam de “fogo de palha”.

            Óbvio que Lula e o PT não estão fazendo um bom governo hoje. O ex-presidiário de nove dedos implantou um governo muito fraco, de centro-direita e totalmente a serviço da elite reacionária como sempre. Ainda assim, é bem melhor do que um governo genocida, fascista, incompetente, reacionário e insensível para com os brasileiros mais necessitados. A elite endinheirada é quem continua dando as cartas no Brasil. E tudo isso via Centrão e via bancadas conservadores como a bancada BBB do Congresso (Boi, Bala e Bíblia). Dessa forma, qualquer investida do Judiciário para punir, dentro da lei, os participantes do 8 de janeiro é vista como ditadura por essa turma reacionária. A Rede Globo (quem diria?) e o STF são vistos como agentes do mal e a serviço de ditaduras. Um acusado de ter mandado matar Marielle Franco, por exemplo, quase foi solto pelos deputados de direita. Chiquinho Brazão continua preso e será punido. Para bandido, a lei.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Porto Velho não é a pior capital do País

Porto Velho não é a pior capital do País

 

Professor Nazareno*

 

            Moro em Gramado na Serra Gaúcha. Gosto de viajar e de conhecer novos lugares. Decidi desta vez ir a Rondônia e conhecer a sua famosa capital, Porto Velho. Lá, quero ter todas as experiências possíveis. Chegando à capital dos rondonienses, fiquei de início encantado com tanta cobertura vegetal e com tanta água potável dos inúmeros rios que a circundam. O preço da passagem aérea entre Porto Alegre e Porto Velho me espantou um pouco, pois saiu mais cara do que se eu tivesse escolhido uma capital da Europa para conhecer como Paris, Londres, Viena ou Roma. Mas tenho certeza de que a minha escolha foi a mais correta. Acredito que, como eu, muitos turistas brasileiros também têm esta preferência. E depois de quase um dia e meio de viagem com várias conexões, eis que, já muito cansado e sonolento, finalmente cheguei ao último destino desta escolha turística.

Chegando ao Aeroporto Internacional Governador Jorge Teixeira de Oliveira, um gaúcho igual a mim, fiquei maravilhado. “Esse aeroporto deve ter inúmeros voos para fora do país”, imaginei. Além do mais, Jorge Teixeira só me lembra o Rio Grande. Assim, fiquei muito alegre ao saber que tão longe de minha casa o povo ainda “tece loas” a um conterrâneo meu e o veneram como se fosse um santo. Mas só depois que desembarquei no acanhando campo de pouso é que as coisas começaram a “melhorar” para mim. Duas horas da manhã definitivamente não é um bom horário para se chegar a um lugar longe, afastado e com pouca infraestrutura. Mesmo assim, “a capital das sentinelas avançadas” só me traz boas recordações. Tudo em Porto Velho me encantou. Suas ruas históricas, seu saneamento básico de primeira, sua arborização e os limpos igarapés que cortam a cidade.

Não quis pegar taxi ou Uber, pois eu não tinha ainda um hotel definido. Perguntei o que havia de interessante para ver na cidade. “Tudo aqui é bonito”, diziam. Havia muito lixo espalhado pelas ruas tortas. Como chovia, falaram para eu ir visitar o “encontro das águas” no bairro Nova Porto Velho. Chegando ao local, a rua rio Madeira com a rua Rio de Janeiro fiquei abismado. Pessoas nadando, se divertindo e praticando todo tipo de esporte aquático. Lanchas, barcos e voadeiras disputando cada espaço com os poucos ônibus urbanos era um espetáculo bonito de se ver. Havia ali pessoas jurando que aquela água era potável. “Essa atração é muito antiga em nossa cidade”, dizia um transeunte. “Acredita-se que tenha mais de 50 anos”, informava outro. Nenhum prefeito ainda teve coragem para acabar com esse divertimento da cidade. “É a única praia que temos aqui”.

Andando pela cidade, vi por que quase todos os habitantes daqui são alegres e felizes. Eles têm divertimento de sobra. E Porto Velho nem se compara com Gramado, Curitiba ou até mesmo Campos do Jordão e Canela. Existe coisa mais bonita e moderna do que o Porto do Cai N’água? Ali há muitas aves de cor escura enfeitando a já linda e encantadora paisagem. Um deslumbre só! O Igarapé que passa perto da nova rodoviária se parece com o rio Sena de Paris. Há lindos peixinhos coloridos em suas limpas águas. E a Praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré? O povo dessa cidade tem muita sorte. As pessoas daqui são muito hospitaleiras também. Todo mundo me oferecia balinhas de castanha e também de cupuaçu. Fiquei deslumbrado. A culinária é ímpar. Degustei tacacá e muito mandi frito. Quem disser que em Porto Velho é ruim de viver, mente. Para mim é a melhor dentre as capitais do Brasil. Por isso vou voltar outras vezes aqui. Acreditem!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 14 de abril de 2024

Temas proibidos nas eleições

Temas proibidos nas eleições

 

Professor Nazareno*

 

            Como ainda vivemos em uma democracia, este ano tem eleições novamente. E isso é muito salutar e bom em um regime político em que prevalecem as escolhas dos representantes no voto. São as eleições municipais para escolher prefeitos e vereadores das cidades. Essas eleições são de menor importância para a conjuntura política do país, mas é esse o pleito que mostra o real valor do eleitor, já que o mesmo mora e vive no município. A justiça eleitoral, no entanto, já está se preparando para as campanhas políticas e adverte que alguns temas são proibidos para os candidatos quando estiverem pedindo o voto dos seus eleitores. Preconceitos, violência, desobediência civil, calúnia, difamação, injúria, promessas e vantagens, dentre outros temas, estão todos proibidos. Aliás, sempre estiveram. E isso demonstra o grau de civilidade esperado pelos tribunais.

Não será tolerada também nenhuma narrativa que deprecie a condição ou estimule a discriminação em razão do sexo feminino, ou em relação a sua cor, raça ou etnia. Porém, no caso específico de Porto Velho, a insólita capital de Roraima, alguns temas também deveriam ser proibidos para quem vai pedir o seu voto. Não dizer, por exemplo, que é um candidato representante das esquerdas. Em Rondônia e principalmente na capital nunca houve um só candidato que representasse essa posição ideológica. Quase todo político daqui é da direita e também da extrema-direita. Ricos, abastados, bem sucedidos, alguns são oriundos da elite reacionária, moram bem, têm carros de marcas caras e até passam férias todo ano nas paradisíacas praias do Nordeste e mesmo no exterior. Nenhum deles mora, por exemplo, lá na zona leste da capital e nem na zona sul. Seria a esquerda festiva?

Deveria ser proibido também o candidato dizer que é da oposição. Qual o político local que já fez oposição a quem quer que seja? Conheço algumas cidades do Estado em que 100 por cento dos vereadores estão do mesmo lado do prefeito e também compactuam com ele. Mesmo aqueles que foram eleitos por partidos ditos de oposição. Essa bisonha atividade do Legislativo, “lamber botas” do Poder Executivo, infelizmente não é uma invenção rondoniana. No Brasil inteiro se percebe esta cretinice na maior cara de pau. Hoje em dia é cada vez maior o número de políticos locais que já tecem loas a Lula. Antes, a adulação era para o Bolsonaro. Fica proibido também falar qualquer coisa sobre o IPAM, o Porto do Cai N’água de Porto Velho e também da Praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Os milhares de urubus e de ratos de lá podem ficar muito aborrecidos.

Outro assunto que também deveria ser um tabu nas próximas eleições da “capital das sentinelas avançadas” é a construção do moderníssimo “Built to Suit” para substituir o eterno “açougue” João Paulo Segundo. Apesar de ser uma obra estadual, ela está muito ligada aos munícipes. Falar até pode, mas só se for para mostrar que as obras estão “de vento em popa” e que muito em breve serão entregues à população mais carente do Estado e da capital karipuna. E nada de falar dos inúmeros “palácios suntuosos” que foram construídos nessa capital nos últimos anos. Tudo isso em detrimento de um hospital de pronto-socorro de vergonha para os porto-velhenses pobres. Os candidatos a prefeito e a vereadores serão muitos (como sempre) e todos eles com o “desejo de trabalhar” pelos mais necessitados. Deve-se evitar o estresse e não dizer nada sobre saneamento básico, arborização, mobilidade urbana e a água tratada na cidade. Não é censura. É a realidade!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 9 de abril de 2024

Uma cidade sem expectativas

Uma cidade sem expectativas

 

Professor Nazareno*

 

            Porto Velho, a eterna capital de Roraima, é uma cidade totalmente sem nenhuma expectativa. Tanto no sentido real como no sentido figurado. A realidade da cidade é sombria, sinistra, macabra, sepulcral, totalmente incerta e sem esperanças de dias melhores. Recentemente foi declarada como a pior dentre as 27 capitais do Brasil. O Instituto Trata Brasil, pela décima vez consecutiva, mostra com números irrefutáveis que a “capital das sentinelas avançadas” detém os piores números em saneamento básico, água tratada e qualidade de vida. Mas, por incrível que pareça, a maioria dos seus habitantes parece estar feliz e satisfeita com a tenebrosa situação. Pesquisas recentes dão conta de que a capital de Rondônia tem uma das menores expectativas de vida do mundo. Aqui se vive somente uns 61 anos. Além de vergonhoso, esse número é hilário e absurdo.

            Um cidadão que nasceu e ainda vive em São Luís do Maranhão, Teresina no Piauí, Cuiabá no Mato Grosso e até em Rio Branco, a insólita capital do Acre, tem uma expectativa de vida bem maior do que aquele cidadão que teve a má sorte e a infelicidade de ter nascido por aqui às margens do rio Madeira. Vergonhosamente Porto Velho perde até para países ridículos da África subsaariana como Camarões, Sudão e Eritreia. Perde também para o Haiti, o país mais pobre do hemisfério ocidental. Em expectativa de vida, nós praticamente só empatamos com o Afeganistão dos talibãs, com a Etiópia, com Ruanda e o Quênia. Até a Bolívia, país que muitos rondonienses já se acostumaram a falar mal, tem uma expectativa de vida superior a 71 anos. Além de não ter nenhuma expectativa, Porto Velho também não tem sequer um porto de passageiros no rio Madeira.

            A cidade praticamente também não tem um aeroporto que preste. Pelo ar, estamos isolados já há quase um ano e ninguém toma providências. Várias companhias aéreas fazem boicote na cara das autoridades e se recusam a aumentar o número de voos diários naquele tosco “campo de pouso”. O porto de passageiros é uma nojeira só. Chegando de barco pelo Madeira a recepção que se tem é um barranco cheio de lama podre e repleto de urubus e carniça. Outro dia contei pelo menos 85 aves de rapina voando por ali. Quem é o responsável por aquela área abandonada? O DNIT? A Santo Antônio Energia? A Câmara de Vereadores? A prefeitura de Porto Velho? O governo do Estado? Ora, se a prefeitura ainda não entregou ao povo nem a praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Quem lambe botas dessas autoridades devia era se envergonhar das condições do “porto”.

            E este ano tem eleições municipais. Mas quem está preocupado com o Baixo Madeira e com as pessoas que moram em São Carlos, Nazaré, Ilha de Assunção, Terra Caída, Conceição do Galera ou até mesmo Calama? Juntando todas essas simpáticas vilazinhas não há mais do que uns dois ou três mil eleitores. E pior: são quase todos eleitores pobres. Político, de um modo geral, não se preocupa com gente pobre nem com pouco voto. Deve ser por isso que o porto do Cai N’água é um lixo só. E aqueles urubus ali, além de serem a vergonha para os defensores da abandonada cidade deviam ser também o símbolo da decadência de Porto Velho e de seus ricos, abastados e insensíveis administradores. A síndrome da “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre se aplica muito bem a esta triste situação. O povo do Baixo Madeira devia merecer mais respeito, pois a “capital dos destemidos pioneiros” iniciou por Calama e adjacências. Sacanagem!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Como os tempos mudaram!

Como os tempos mudaram!

 

Professor Nazareno*

 

Tenho 65 anos e vivi o suficiente para ver coisas que antes eram impensáveis nesse Brasil e também em Porto Velho. A UNIR, Universidade de Rondônia, única instituição pública de ensino superior no Estado, inaugurou recentemente, depois de quase meio século de existência, o seu Restaurante Universitário para a alegria dos poucos alunos que ainda teimam em estudar naquele distante estabelecimento de ensino. Vamos agora torcer para que o mesmo não feche as suas portas de forma prematura como aconteceu com um restaurante popular que havia no centro da cidade. A luta a partir de agora no campus José Ribeiro é para se ter um Hospital Universitário. Quem sabe durará também outro meio século para isso. Tudo normal para Rondônia, que tem vários cursos de Medicina em faculdades particulares e nenhuma delas tem hospital para treinar os futuros médicos.

Vivi para ver a extrema-direita do Brasil falando mal de um ministro do STF, o Alexandre de Moraes, que foi indicado pelo ex-presidente golpista Michel Temer. Todos esperavam que o “vampiro” Temer, que deu um golpe na Dilma e no PT, indicasse um ministro somente para obedecer às ordens dele e de toda a direita e da extrema-direita. Quebraram a cara! Moraes peitou o inútil e golpista ex-presidente Bolsonaro e certamente vai colocá-lo na cadeia por que o mesmo tentou dar um golpe de Estado. Aliás, é algo também inédito nesse Brasil: uma tentativa de golpe de Estado sendo minuciosamente investigada pelas autoridades e com reais chances de punições exemplares para todos os envolvidos na sórdida tramoia. É só uma questão de tempo para Jair Messias Bolsonaro e seus asseclas serem presos. Não tem preço ver nossa frágil democracia triunfar no caos.

Outra mudança incrível no tempo é ver hoje os reacionários e a elite falando mal da rede Globo de Televisão. E quase todo mundo sabe que Roberto Marinho foi um dos incentivadores do golpe civil-militar de 1964 que instalou uma assassina Ditadura Militar no Brasil. O refrão “o povo não é bobo, abaixo a rede Globo” era um bordão da esquerda. Mas uma das esquisitas coisas de ser ver nos dias atuais são os evangélicos do Brasil tecerem loas a Israel, um país judeu. Como pode esses evangélicos adularem um país cujos ancestrais prenderam, crucificaram e mataram Jesus Cristo, o líder desses mesmos evangélicos? Pior é ver parte da mídia, em plena democracia, censurar textos só por que falam mal do prefeito, do governador ou de outro político qualquer.  A mídia censurando textos por causa de alguns trocadas é algo surreal. É de causar inveja em muitas ditaduras.

Porém, o festival de bizarrices não para por aí. Vi e vejo, na área da política, “com estes olhos que a terra há de comer” um prefeito de pouca expressão ter 100 por cento de apoio dos vereadores de sua cidade. Como pode esse mesmo prefeito não dar água encanada, saneamento básico, mobilidade urbana e nenhuma qualidade de vida aos seus tolos munícipes e ainda ter toda essa aprovação? É hilário e no mínimo estranho. E uma cidade podre e imunda sendo amada e defendida pelos seus acomodados habitantes? Onde já se viu isso? Seria já o fim dos tempos? E todos nós vemos a Amazônia sofrer com secas inclementes como as do Nordeste. É, as coisas estão mudadas mesmo! E “na pisada que vai” daqui a pouco em qualquer cidade os voos sairão do aeroporto durante o dia. E terão voos diários e para qualquer lugar do Brasil e do mundo. Até vi presos fugirem de uma penitenciária de segurança máxima e não serem recapturados. O que mais vai acontecer?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 31 de março de 2024

Democracia ainda sob ameaça!

Democracia ainda sob ameaça!

 

Professor Nazareno*

 

            Criada pelos gregos na Antiguidade Clássica, a atual democracia só foi mesmo implantada no final da Idade Moderna. A Inglaterra, os Estados Unidos e a França, necessariamente nesta ordem, foram os primeiros países a implantá-la nas suas sociedades. Isso apesar de a Inglaterra ser um reino e de ter reis governando sua gente. É até hoje uma democracia parlamentar. Já no Brasil, que na área da política praticamente copia tudo o que vem do mundo desenvolvido e civilizado, a democracia só apareceu muito tempo depois de proclamada a República. Embora em todo este tempo, de 1889 a 2024 o termo sempre foi reivindicado por todas as formas de governo e por todos os políticos que já governaram o nosso país. Mesmo durante a assassina e cruel Ditadura Militar, a explicação na época era a de que deram um golpe para “salvar a democracia”.

            Os fardados só se esqueceram de dizer que o Brasil, em 1964, já vivia com o presidente João Goulart em uma democracia plena e a então tomada do poder por meio de tanques e baionetas não salvou nenhuma democracia, apenas matou no nascedouro a que a duras penas nós tínhamos na época. Ou seja, os militares brasileiros, a serviço da elite reacionária, romperam de forma unilateral o regime democrático que havia no país e implantaram uma ditadura. Depois, a reação foi só de alguns raríssimos setores da sociedade. A não ser que o conceito de democracia, para a elite e para os militares, seja o fechamento do Congresso Nacional, a tortura de oposicionistas, a proibição de eleições diretas para vários cargos políticos, exílios, assassinatos, dentre outras características só vistas em ditaduras como a de Hitler, de Augusto Pinochet, Mussolini, Franco e de outras.

            Em 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro, mais um dos filhotes da vil Ditadura Militar, tentou dar um golpe de Estado nele mesmo e assim evitar, na marra, a posse do presidente Lula, que, até que se prove o contrário, foi eleito de forma limpa e democrática. Oriundo das Forças Armadas, onde infelizmente ainda reina uma certa mentalidade golpista, Bolsonaro e sua turma têm que ser condenados e presos para que a democracia nunca mais seja ameaçada no Brasil. Só que todos os golpistas de hoje clamam aos quatro ventos que são defensores dela, assim como diziam os seus antepassados de 1964. A Ditadura Militar governou por exatos 7.655 dias e só caiu de podre. Neste período dos anos de chumbo, a nossa democracia era estuprada todo dia. Hoje, com 39 anos, é o tempo mais longo que o país já viveu com total liberdade. Porém, ainda assim, ela está ameaçada.

            Claro que a democracia do Brasil não é perfeita e por isso não pode ser comparada com a dos países ricos, justos e civilizados. Mas hoje, 71% dos brasileiros a apoiam. E para resolver os problemas dela, a solução é ter mais democracia. Os políticos têm de entender que um regime democrático tem que ser vivido na prática diária, pois “a ciência política é a mais importante dentro de qualquer sociedade”. Nada de conchavos, de “panelinhas” infames com o Poder Executivo dentro das câmaras municipais, das assembleias legislativas e do Congresso Nacional. Nada de apoio irrestrito só por causa das verbas. Legislativo, Executivo e Judiciário são poderes paralelos na sociedade, justos, independentes e harmônicos entre si. Cada um com a sua função para atuar. A democracia tem que ser vivida levando-se sempre em consideração o seu bem maior: a liberdade do povo. E para quem pregar tirania ou golpe: cadeia! E democracia com ameaças é ditadura!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.